Por: Profa. Dra. Valéria Batista
Desde cedo as crianças podem refletir sobre as partes orais das palavras, brincando de sílabas, com rimas e pensando sobre as relações que existem entre as letras e as sílabas iniciais (habilidade metalínguística).
E, sabemos que elas fazem isso, antes mesmo de ter qualquer conhecimento sobre a convenção da escrita, no uso de letras com correspondência sonora.
As crianças têm uma curiosidade natural sobre as palavras da língua, por isso gostam tanto de brincar de rimas, de falar de forma espontânea em brincadeiras como: Eu faço uma pergunta e você responde. Diga uma palavra começada com /su/. E a criança responde: "Suco /suku/". Ou, fale uma palavra que rima com peneira. E ela diz: "Topeira, mamadeira".
Portanto, cabe a escola despertar na criança a possibilidade de reflexão sobre a escrita das palavras no momento destas brincadeiras orais, mostrando sobre as convenções letra-som e sobre o funcionamento do sistema de escrita alfabético.
Muitas foram os estudos que concluíram que a partir da análise explícita de segmentos sonoros silábicos e de letras, como estas atividades metalinguísticas consolidam o conhecimento das crianças a respeito do funcionamento da escrita e contribuem para a alfabetização.
É importante destacar que, a consciência fonológica tem sido utilizada para fazer referência à habilidade de analisar as palavras da linguagem oral, de acordo com as diferentes unidades sonoras que as compõem, ou seja, de ser capaz de julgar as características sonoras das palavras quanto a sua semelhança, diferença e tamanho e, também, de isolar e manipular fonemas e outras unidades da fala, tais como sílabas e rimas.
A respeito da consciência fonêmica, estamos nos referindo a uma habilidade mais refinada que exige das crianças uma percepção das menores unidades da língua, por esta razão fica muito mais difícil de perceber.
Sabemos que não é natural que se preste atenção aos fonemas durante a fala ou escuta, pois os fonemas não têm significado e por isso, não podem ser identificados de forma fácil na fala corrente.
A consciência fonêmica refere-se ao conhecimento sobre um fonema e a capacidade da criança refletir sobre o fonema.
Assim, os fonemas são melhor distinguidos pela forma como os fones são articulados do que pela forma como soam, por isso é importante as crianças serem estimuladas a sentir a forma como sua boca e a posição de sua língua mudam em cada som.
Seguem algumas dicas de como desenvolver a consciência fonêmica e quais habilidades BNCC são desenvolvidas:
Para que a criança entenda o princípio alfabético esta precisa aprender o som das letras e o que elas representam.
(EF01LP05) Compreender o sistema de escrita alfabética.
Um bom início é começar com a consoante fricativa.
(EF01LP07) Compreender as notações do sistema de escrita alfabética - segmentos sonoros e letras.
Fricativas são consoantes produzidas pela passagem do ar através do canal estreito feito pela colocação de dois articuladores próximos um do outro.
Por exemplo: Lábio inferior contra os dentes superiores {f} :
SOM FFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFF
Lábio inferior contra os dentes superiores {V}:
SOM VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
A parte posterior da língua contra o palato mole {X}:
SOM XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
As fricativas sibilantes, quando a língua se curva de maneira a conduzir o ar sobre as pontas dos dentes {S}:
SOM SSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
As fricativas sibilantes, quando a língua se curva de maneira a conduzir o ar sobre as pontas dos dentes {Z}
SOM ZZZZZZZZZZZZ
Estes foram alguns exemplos de como demonstrar às crianças que as palavras contêm fonemas e desta forma, introduzir a elas a forma como os fones soam e como os percebemos quando os pronunciamos isoladamente, sempre introduzindo a relação das letras com os sons da fala.
O importante é o professor perceber que mesmo quando as crianças já demonstram ter aprendido o funcionamento sobre o sistema de escrita alfabético, as atividades que exigem síntese fonêmica (o professor pronuncia a sequência de fonemas de uma determinada palavra e a criança precisa dizer a palavra formada), de segmentação em fonemas (o professor apresenta uma figura e a criança precisa segmentar sons cada fonema da palavra que representa a figura) e transposição fonêmica (o professor fala uma palavra e a criança é capaz de criar outra palavra por sua capacidade de adicionar ou subtrair um fone na palavra – banda/branda ou chama/cama), estão são habilidades fonêmicas extremamente difíceis para a maioria das crianças, pois exige este conhecimento mais refinado de percepção de como os fones soam.
(EF01LP09) Comparar palavras identificando semelhanças e diferenças entre seus sons e suas partes (aliterações, rimas entre outras).
(EF01LP13) Comparar o som e a grafia de diferentes partes da palavra (começo, meio e fim).
Para desenvolver esta habilidade fonêmica, além do trabalho de estimular as crianças a sentirem a forma como sua boca fica ao pronunciar um fone, com o uso de um espelho e como a posição de sua língua muda em cada som, sugiro também o uso de jogos de linguagem e jogos fonológicos, que podem ser poderosos aliados para que os alunos possam refletir sobre o sistema de escrita, pois no momento dos jogos, as crianças mobilizam saberes acerca da lógica de funcionamento da escrita, consolidando aprendizagens já realizadas ou se apropriando de novos conhecimentos nessa área.
Brincando, elas podem compreender os princípios de funcionamento do sistema alfabético e podem socializar seus saberes com os colegas.
Indicação de livros:
ADAMS, M.; FOORMAN, B.; LUNDBERG, I. & BEELER, T. Consciência fonológica em crianças pequenas. Porto Alegre: Artmed, 2006.
MORAIS, Artur Gomes de. Consciência fonológica na educação infantil e no ciclo de alfabetização. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
Elaborado por:
Profa. Valéria, doutora em Educação pela PUC-SP. Diretora Pedagógica na Apliqueducação onde cria e desenvolve jogos de alfabetização baseados em evidências de pesquisa por conta de sua longa e sólida experiência em sala de aula no Ensino Fundamental, incluindo o trabalho de com alunos da Educação Especial.
Leitura crítica e edição: Joseane Terto